Buscar perfeições não faz o menor sentido.

Dez Centavos
2 min readJun 6, 2024

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Sempre tentei ser o melhor de mim, a única coisa que sempre me impediu era eu mesmo.

Tenho um medo quase primordial de fazer coisas, um misto de receio da reação dos outros, afastamento comparativo e falta de originalidade. Tudo o que eu consigo colocar para fora precisa ser feito sem pensar, preciso criar e espalhar, caso contrário as coisas não fluem.

Não sei bem quando as coisas começaram a ser assim, talvez na quarta-série no momento em que a professora de matemática pediu para eu resolver a questão de divisão da lição de casa na lousa e disse “você conseguiu errar mesmo fazendo a prova real”, ou quando todos os meus amigos começaram a ser bons em alguma coisa e eu nunca me vi bom em nada, provavelmente quando eu tentei ser o mesmo que minha família e não cheguei nem perto do nível de intelectualidade deles.

Quando o Instagram surgiu eu ainda não ligava muito para fotos, gostava de seguir contas de celebridades e pessoas famosas para acompanhar a vida deles. Com o tempo as publicações foram ficando mais elaboradas e perfeccionistas. Tentei então, por um tempo, desenvolver uma estética própria, ter fotos perfeitas, ou só enganar bem nos enquadramentos. Não deu certo.

Comecei a assistir muitos filmes, e claro, mais uma vez, a vontade incontrolável de produzir meu próprio filme, com enquadramentos perfeitos, luzes perfeitas, cores espetaculares. Tudo o que eu fiz foram alguns curtas experimentais e mini videoclipes que ninguém nunca viu.

Estou preso nesse ciclo de nunca conseguir fazer nada, sempre me proponho, sempre tento, com toda certeza eu quero. Consigo planejar, visualizar, elaborar, contar para todos os meus amigos e ter a certeza de que as coisas vão dar certo. Mas não consigo fazer, não consigo ultrapassar a paralização do medo de fazer errado, de ser mediano, das pessoas empolgadas com algo empolgante receberem o medíocre e perceberem que sou aquilo. Apenas uma farsa com muitas palavras.

Um dia eu tirei notas baixas em algumas avaliações, meu tio me convidou para assistir a um filme, era “o dia da morsa” e ele me disse que gostaria de conversar comigo quando terminássemos. Ao subirem os créditos eu disse “as vezes a gente fica preso em ciclos simplesmente por não gostarmos deles. Precisamos viver e passar por todas as experiências, porque é a única forma de conseguirmos chegar a algo que gostamos”. Eu tinha 12 anos, sempre me pergunto se consegui vencer os ciclos e aproveitar o que veio depois.

Às vezes eu tento penar como uma criança feliz por alguém estar preocupado com ela.

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