Eu não entendo a ansiedade por coisas novas.

Dez Centavos
3 min readJun 7, 2024

--

Eu não entendo a ansiedade por coisas novas só para reclamar da qualidade e fazer comparativos descabidos com o antigo. A cada dia que passa, estamos mais distantes de uma música nova da Rihanna, outlets de mídias, páginas caça like, perfis de fofoca e até amigos, todos os dias sustentam a narrativa de álbum novo da Rihanna. Sendo bem sincero sobre meus gostos, acredito que a cantora foi um produto cultural e industrial a serviço do tempo no qual existiu, Anti é muito autêntico, diferente e experimental, comparado com todo o resto do catálogo dela. Um ótimo produto para encerrar a carreira.

Ms. Lauren Hill possui um dos álbuns mais aclamados da história da música, única mulher negra a vencer um grammy em categorias principais de ampla concorrência com outros artistas, ao invés do gênero “urbano”, constantemente está em primeiro lugar nas listas de críticos nas discussões de maiores projetos de todos os tempos, foi fundadora dos principais movimentos musicais da sua década de atividade, e nunca mais lançou nada.

Constantemente vemos mulheres brilhantes se negando à condescendência dos fãs com as gravadoras, nenhuma artista é livre, nenhum novo contrato sai barato e nada garante a liberdade artística e integridade dessas pessoas. Mas o grito por coisas novas continua.

O mercado de vinis se tornou terreno para a disputa de #1, desde que o Travis Scott conseguiu inserir seus bundles de vendas e superou os números da Nicki Minaj, temos visto novas maneiras de vendas para além das streams, que não dão dinheiro direto para os artistas, se tornando cada vez mais comuns. Seja com artes diferentes e encartes novos, como a Beyoncé, ou com edições de singles exclusivos, como o Tyler, The Creator, a disputa por visibilidade é cada vez mais uma estratégia de guerra.

Com tudo isso, para que pedir mais? Todos os dias vejo na internet pessoas reclamando e arrumando briga por conta da direção criativa que o suposto artista preferido dela decidiu tomar, no mercado da música de 2024 só existem duas posições: humilhar o artista, ou humilhar quem gosta do artista. Vi um post dizendo “alguns de vocês passam tempo demais online e não perceberam que se tornaram maus com as pessoas ao seu redor”. A internet deixou de ser ponto de escapatório e distrações para se tornar ou uma extensão, ou uma versão completa dos nossos trabalhos, expelimos nossas ansiedades e frustrações na tela dos outros e somos agressivos com quem aparecer. Constantemente exigimos coisas novas porque estamos o tempo todo sendo produtores de conteúdo. O pensamento que fica é “se eu sou obrigado a trabalhar, performar e entregar excelência, essas pessoas que ganha dinheiro às minhas custas precisam me agradar”;

Não existe o menor motivo para continuidade, a indústria norte americana estadunidense viciou nossos cérebros em sequências, sagas, prólogos e na transformação da vida mundana e reality show que deve ser acompanhado. Se o artista faz músicas intimas demais, não existe associação, cria-se a narrativa de que a arte não é para certas pessoas e apenas determinados grupos com experiências correlatas pode curtir. Se a arte é muito distante, ela não serve para entreter e não entregou o que os fãs pediam. Mas se é exatamente o pedido, se checa todas as caixas e aponta para o entretenimento de forma simples, torna-se o pior lixo já criado.

Acredito no fim das coisas. Quando não conseguimos saber a hora de parar, entramos em ciclos de reclamações e dúvidas, não quero os meus artistas preferidos mantidos em cativeiros para realizar pulsões freudianas, apreciem o que já existe.

--

--