Hoje eu não consegui pensar em nada.

Todos os dias nós acordamos. Sabemos que o mundo não depende de nós para funcionar, mesmo assim acreditamos no início do dia, na rotina, nos pequenos tempos de pausa antes da hora de trabalharmos. Hoje foi um desses dias em que eu estava atrasado para a rotina. Cheguei ao escritório 10 minutos antes do meu horário, já existiam pessoas viradas preocupadas com a próxima entrega. Nenhum dos meus rituais matinais pôde ser feito e eu precisei entrar no ritmo daquele alvoroço.

Cansativo. O dia não acabava nunca. Precisei executar diversas tarefas, pensar em diferentes modelos, apresentar ideias. Mesmo assim, tudo parece engessado, nada soa como original ou interesse. Estou tentando me equilibrar e não ouço o som da minha cabeça. Será que hoje era pra ser assim?

Agora eu dependo de novos processos, depois de correr para tudo ficar pronto com antecedência, estou atrasado mais uma vez. Por que eu estou andando em círculos? Será que quando desligamos a cabeça para focar no trabalho não prestamos atenção? Está todo mundo feliz, ninguém está alegre, nada é genuíno. A entrega foi feita, esperamos a correção, marcamos a reunião de pós, talvez venham as brigas guardadas para focarmos no projeto. Queria que a pauta fosse eu. Não para ser o centro das atenções, para não ter atenção nenhuma, para não prestar atenção em ninguém, conseguir desenvolver um pensamento sem a necessidade de ser lapidado, aprovado, impulsionado.

Até agora eu não consegui pensar em nada. Pensei no meu sofá, imaginei o lanche que ficou na geladeira por falta de tempo, hoje a fruta veio passear. Enquanto almoçava alguém me disse “fiz isso aqui, pensei em te chamar, mas achei melhor não atrapalhar seu almoço”. Obrigado?

Uma amiga perguntou sobre o texto do dia, tenho alguns da semana passada, poderia ser a publicação de hoje, mas se o fizesse, nunca saberia quantas palavras consigo dizer com a cabeça vazia. Parei, olhei pro lado e finalmente pensei “é aqui que termina o texto?”