É muito difícil conversar com homens.

Venho tentando advogar pela expressão da intimidade masculina, na construção de vínculos que se sustentem e existam além de características em comum construídas antes das pessoas as quais nos tornamos.

Mas existe um problema: o silêncio é incrível.

O vazio das palavras sem qualquer significado pessoal, ou implicância de tópicos sensíveis, é o que nos mantém viciados em relações afetivas coniventes. Coniventes porque sabemos os nossos problemas, entendemos a existência de lacunas em nossas personas, mas queremos apenas aproveitar o momento de cumplicidade em que ninguém pergunta nada.

É curioso também pensar nas repetições de padrão, em 2005 assisti à campanha de campeão da Libertadores do SPFC com minha avó, em 2011 foi a vez do Santos, ao lado do meu avô. Apesar de se traduzirem no mesmo momento, foram expressões completamente diferentes. Entre essas épocas ainda era comum a utilização de telefones fixos, ou qualquer rede de telefonia, para ligações, e as únicas vezes em que meus tios ligavam para outros homens era quando os times desses homens perdiam.

Sábado passado foi a final da UEFA Champions League, um de meus amigos me convidou para assistir em sua casa, a experiência foi próxima aos campeonatos de 2011, a gente não se importa tanto com futebol estrangeiro, mas é bom ver o Vini Jr. ganhando. Depois do jogo decidimos jogar Hades no PS4 e assim ficamos, por umas 2 horas. Eu sei quais as builds preferidas, quais os talentos, set up. Combos e personagens meu amigo mais gosta. Tudo isso foi descoberto no silêncio, assistindo-o jogar durante a vez dele. Nenhuma palavra.

Muitas vezes eu sinto que minha vida é um conteúdo sendo compartilhado, em conjunto à falta de incentivo familiar para falar qualquer coisa que fosse, só fui aprender a falar por me relacionar com pessoas extremamente comunicativas. Mesmo o diálogo sendo vazio, como uma reunião para ouvir o álbum novo do seu artista preferido, onde vocês dão pequenos destaques faixa a faixa. Essa não é uma justificativa para colocar mulheres na posição de funcionárias da saúde não remuneradas. Mas é muito difícil conversar com homens.

Estou ansioso pela próxima vez que algum esporte vai proporcionar a junção com meus amigos, tentaremos ser íntimos e tudo vai terminar num sonoro “é foda”.